segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ressignificando:

Felicidade é esse tudo que é quase-agora e que a gente acaba passando por cima como se fosse nada...
Quando o quase-depois chega, a gente olha pra trás e vê que felicidade é trajeto e não chegada.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Narração dos fatos:


"Ele bateu de esquina" disse a moça que não tinha licença para dirigir, mas tinha licença poética.
Lucia era como aquelas meninas que nascem em lugares pequenos pros lados e as expectativas de futuro são pequenas pra frente. Veio de uma família que, com sorte, o pai é dividido entre muitos e que pra ter comida na mesa, não se podia só estudar. Era preciso trabalhar e foi indo para uma dessas entrevistas de emprego que ela presenciou o acidente de trânsito. Um engavetamento de quatro carros, na Avenida Atlântica. Nascida no interior do Paraná, pensava que só seria feliz se tivesse oportunidade (palavra que aprendeu na tv, assim como "maneiro" e "tá ligado") em uma cidade grande. Foi para o Rio de Janeiro. No dia em que desembarcou do ônibus que a trouxera à cidade maravilhosa viu um acidente muito parecido com este último: um Gol ao dobrar na esquina sem sinalizar levou os demais carros a parar bruscamente ocasionando a uma série de colisões. Lucia lembrou de quando chegara na cidade carioca e de quantas vezes pensou em tudo que deixara para trás, inclusive Raimundo. Recordou também que só havia visto o mar três vezes antes daquela chegada. Sempre quis morar em Ipanema, mas o mais perto que chegou disso foi trabalhar em Copacabana, em um apartemento com vista pro mar. Lá de cima ela via a praia e uma estátua de ferro sentada em um banco. Lucia parou de contar as vezes que via o mar depois da trigésima, foi quando começou a reparar José, porteiro do prédio ao lado...
Ao ser abordada pelo guarda de trânsito e por mais dois motoristas nervosos, voltou daquela momentânea retrospectiva e começou a dar explicações do que havia presenciado. Referiu que um Gol branco havia dobrado em uma rua de forma imprudente e que isso teria feito com que os quatro carros acabassem colidindo. O policial indagou se ao invés de Gol não teria sido um Uno, ela respondeu que não tinha certeza (e já começou a pensar na possibilidade de estar misturando a memória recente com àquela do primeiro acidente). Um dos motoristas envolvidos pediu para que testemunhasse a seu favor e pediu seu telefone, porém Lucia estava atrasada para a entrevista e pediu para ir embora. Ela era muito pontual, em três anos de serviço na residência da Dona Elisa, em Copacabana, nunca se atrasara ou faltara por qualquer motivo. Naquele dia, com pressa de vencer na vida, Lucia não conseguiu chegar a tempo na entrevista. Parou. Reprovou o trânsito carioca e sentiu saudades de casa. Ao deitar, estafada, no banco da praia, viu o mar na vertical pela primeira e última vez.
A tristeza é uma ponte
que aperta o peito e o pé.
O que a gente precisa, para atravessá-la,
é fôlego.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Segunda-feira não é dia de céu cinza.
Não pude colocar meu vestido de cor.
Não pude passear com os pés de primavera.
Não acordei de bom dia, acordei de dia e só.
Pouco tempo faz que ele era azul.
E agora?
Estação às avessas, chuva com excesso de bagagem...