terça-feira, 21 de setembro de 2010

Carta pro meu bem

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Bom dia, meu filho. Digo ‘bom dia’ porque minha intenção é escrever uma carta tão ensolarada pra você que espero que ela seja lida de manhã, com as janelas bem abertas e com os passarinhos cantando alto.
Daqui há dez anos, já vou ser sua mãe, mas hoje ainda sou outra coisa que você não vai poder conhecer. Tudo bem. Nem todas as coisas nos esperam para acontecer.
E é por isso que eu estou te escrevendo, porque eu queria muito que você soubesse o cheiro que o meu cabelo tem agora aos vinte e poucos anos.  
E que hoje ele está castanho e comprido, mas já foi loiro também.
Eu queria que você soubesse que eu não perco uma oportunidade de dançar, mesmo que eu esteja no ônibus ou no meu quarto, mesmo que não tenha música, ou que tenha só na minha cabeça.
Sou assim, filho. Fico feliz quando vejo uma borboleta, um filme bom e quando leio um livro surpreendente ou uma poesia bonita. 
Borboleta é um bichinho colorido que eu vou te mostrar um dia, filme bom veremos muitos juntos e poesia vou te escrever até o fim da minha vida.
Hoje, meu amor, sou uma menina que perde todos os papéis e chaves de casa, mas não tenha medo, eu juro que vou saber cuidar bem de você.
Quero que você saiba que eu pinto as unhas de azul e acredito tanto no amor incondicional/eterno, que abro cada vez mais os braços para que ele ganhe o mundo.
Espero que quando você estiver lendo esta carta, o relógio já venha com 3 ponteiros, ao invés de dois: minuto, segundo e alegria. O ponteiro da alegria vai indicar a hora de sorrir e brincar.
Mas espero mais ainda que você entenda que o tempo linear é menos importante do que o tempo que você quer que as coisas durem. 
Ai, filho, só agora me lembrei que talvez você nem saiba ler ainda. 
Não tem problema, deita aqui que eu leio pra você antes de dormir.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Que se perde enquanto os olhos piscam

Pronde vai?
Toda tampa de caneta?
todo recibo de estacionamento?
todo documento original?
Isqueiro, caderneta,
a camiseta com aquele sinal...
Pronde vai... toda palheta?
Pronde foi... todo nosso carnaval?
Pronde vai?
Todo abridor de lata?
Toda carteira de habilitação?
Recado não dado, centavo, cadeado?
Todo guarda-chuva!
Pra fuga pro temporal!
Pronde vai... o achado, o perdido?
eu não sei, veja bem...
não me leve a mal...
Pronde vai?
todo outro pé de meia,
carteira, brinco e aparelho dental?
pronde vai... toda diadema?
recibo, receita e o nosso enredo inicial?
Pronde vai?
toalha de acampamento,
presilha, grampo, batom de cacau
elástico de cabelo
lápis, óculos, clips, lente de contato?
a nossa má memória!
a denúncia no jornal?
pronde vai... aliança, chaveiro, chave, chinelo?
e o controle pra trocar canal
Pronde vai?
O solo que não foi escrito?
Labareda nesse labirinto,
o instinto, o reflexo, sem seguro
O coro do Socorro! O lançamento oficial!
Pronde vai... a culpa da cópia?
Pronde foi... a versão original!?
Pronde vai?
a bala que se disparô?
o indício da gripe que disseminou
a culpa no porco no bicho animal?
a firmação do pulso! O discurso radical!
o troco em moeda... a lição da queda
Pronde foi... nosso humor e moral?
Pronde vai? todo nosso desalento
toda brisa vem de um vendaval
pronde vai a reza cortada por sono
ela vale? Me fale... me de um sinal!
São longuinho
Me fale me de um sinal!

Pra onde foi?
O canhoto, benjamim de tomada
Passaporte, n. de telefone, certidão,
registro com foto, simpleza, prudência, clareza... consideração!
Autenticidade, compaixão, certeza...
a urgência, o acaso e a ocasião,
a postura, o primeiro nome, o amuleto, a muleta,
a raiva, a régua, a borracha, o erro, a rasura, a razão
Carregador de bateria, euforia, a perda, a pendência, o pudor o perdão!
extrato, a ponta, a conta nova, a cola da prova e a extensão,
o estímulo, exemplo, ,a voz dissonante...
A coragem do meu coração!
São Longuinho, São Longuinho
Me fale me dê um sinal!
São Longuinho, São Longuinho
Pra onde foi?
A coragem do meu coração!

O Teatro Mágico

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A caixa - The box (2009)


O filme 'A caixa', por mais místico que possa ser, retrata bem a realidade que nos é imposta pelo sistema econômico em que vivemos. A paritr de um botão, uma família, ou uma pessoa, escolhe se os interesses pessoais (ficar rico - ganhar um milhão de dólares) devem se sobrepor aos interesses do outro (um completo desconhecido) que morrerá se a escolha desta família for apertar o botão. 
O botão, hoje em dia, pode representar muitas coisas: uma bolsa, um vinho, a carne de primeira, o jantar em um restaurante caro.. Enquanto alguns poucos puderem comprar/pagar (por) tais artefatos, muitos outros vão morrer, no mesmo instante, por não terem como beber água potável, por exemplo. 
O botão apertado representa, exatamente, o poder conferido a poucas pessoas que, em detrimento das necessidades básicas de uma maiora, conquistam aquilo que pensam ser o melhor pra si, mas, tanto no filme, como na realidade, tal escolha traz consigo as consequências perversas de um mundo como o nosso,  em que, na maioria das vezes, escolhemos apertar o botão...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O cliente, tem que ajudar..

Um homem estava sendo julgado por assassinato.  Havia evidências irrefutáveis sobre a sua culpabilidade, mas o cadáver não aparecia.  Quase no final da sua alegação oral, o advogado, temeroso de que seu cliente fosse condenado, recorreu a um truque:
-  Senhoras e senhores do júri, senhor Juiz, tenho uma surpresa para todos.- disse o advogado, olhando para o seu relógio -  Em dois minutos, o suposto morto entrará na sala deste Tribunal e assim a inocência do meu cliente, seu suposto assassino, ficará inegavelmente demonstrada.
Dito isto, o advogado ficou olhando para a porta.  Os membros do júri, o juiz, todos os ali presentes, surpresos, olhavam também para a porta, cheios de ansiedade.  Transcorreram dois longos minutos, e nada aconteceu.  O advogado, então, concluiu dizendo:
 
-  Realmente, eu disse isso e todos vocês olharam para a porta com a expectativa de ver a suposta vítima entrar.  Portanto, ficou claro que todos têm dúvidas neste caso de que alguém tenha realmente sido assassinado.  É por isso que lhes rogo que considerem o meu cliente inocente, já que perante a dúvida, o mesmo deve ser declarado absolvido. In dubio pro reo.
Os membros do júri, visivelmente surpresos, retiraram-se para a decisão final.  Pouco depois, o júri voltou e pronunciou o seu veredicto:
-  Culpado!
-  Mas, como? - perguntou o advogado - Eu vi todos vocês olharem fixos para a porta.  É evidente que tinham dúvidas!  Como condenam com dúvida?
E o juiz esclareceu:
-  Sim, todos nós olhavamos para a porta, mas o seu cliente olhava para o chão...