segunda-feira, 31 de maio de 2010

Coração

Meu músculo
se esconde,
minúsculo,
entre órgãos e sangue
pseudo-colapso
ainda bate
num prolapso
bombardeia
meu peito
- que rebate:
" Por favor não enfarte"
Vou ao médico.
Resultado do exame,
o óbvio:
meu coração te enxerga
e se torna infame.

A resposta que eu daria a uma criança:

Primeiro, imagine uma caixinha, lisa, vazia. Aí você deve enfeitá-la de um jeito que seja só seu. Você a forra por dentro e por fora, com muito cuidado, de preferência com o tecido mais delicado que encontrares. Essa vai ser a caixa do seu sorriso e, por isso, deve ser muito confortavel. Comece guardando dentro dela os abraços, todos que você já recebeu e deu, quer dizer todos não, só aqueles que foram abraçados de verdade, com carinho, com saudade, só os melhores. Em seguida, coloque a sua comida favorita. Pode ser doce, quer dizer, deve ser doce. Mas pode ter sal também, a doçura vem de quem a faz. Doçura de mãe ou de vó. Ponha dentro da caixa as suas fotos preferidas, não precisa ser a que você esteja mais bonito, mas tem que ser aquela que retrate os momentos mais bonitos. Guarde nela a sua cor e a sua flor prediletas, o seu casaco mais confortável, a cena de filme mais emocionante, não precisa ter beijo, nem lágrimas, só precisa ter verdade, mesmo que a verdade seja de faz-de-conta. Isso, coloque verdade também, mas não aquelas que machucam. Não esqueça da música, uma caixa tão delicada quanto essa precisa de música! Coloque os cafunés que deste e recebeste, e os que irá dar e receber, cheiro de mar e de grama molhada, de café e de chocolate, poemas curtos e receitas de bolo. Ponha gargalhadas, muitas gargalhadas. Inclua frases como "o dia está lindo, hoje", "que preguiça" ou "hahaha", mas principalmente esta: "gostou? fui eu quem fiz". Você deve colocar nela o que tem de melhor em você. Pode até se perguntar como entrou tanta coisa lá dentro, é normal. Você pode guardá-la para si, afinal deu tanto trabalho... Mas não, você decide dá-la para alguém. E isso, essa vontade de entregar o melhor  da gente pra alguém, leva o nome de amor.

domingo, 23 de maio de 2010

Dedução

"Não acabarão com o amor, nem as rusgas, nem a distância. Está provado, pensado, verificado. Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos e faço o juramento: Amo firme, fiel e verdadeiramente."
Manuel Bandeira
Eu também.

Trecho bom de livro bom

"Como tudo, as palavras têm os seus quês, os seus comos e os seus porquês. Algumas, solenes, interpelam-nos com ar pomposo, dando-se importância, como se estivessem destinadas a grandes coisas, e, vai-se ver, não eram mais que uma brisa leve que não conseguiria mover uma vela de moinho, outras, das comuns, das habituais, das de todos os dias, viriam a ter, afinal, consequências que ninguém se atreveria a prever, não tinham nascido para isso, e contudo abalaram o mundo."
Caim - José Saramago

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ela e o inverno

Pois é, ele chegou... Ela que esperou por tanto tempo o vento gelado na nuca, o cobertor pesado sobre o corpo, o café quente pela manhã. Ela o adorava. O ansiava. Para ela, ele era sinônimo de elegância que desfila mantas coloridas e botas de cano longo. 
Manhãs ensolaradas e convidativas a tentam: “Vamos sentar ao sol?”. 
A noite não deixa de ser menos encantadora: delicias gastronômicas, um bom vinho, bochecha vermelha e  brilho nos olhos. (A sensação do corpo relaxando no primeiro cálice, a embriaguez...)
A cama quente, nas manhãs geladas, parece manter o corpo atraído, magnetizado, como imã. Uma preguiça que se esvai com demora, e é só quando a vontade que o dia não termine toma conta dela, (afinal, as paisagens mais belas, fotográficas, quase cinematográficas, estão logo ali, do outro lado da janela), é que ela toma coragem e levanta-se. 
Em silêncio, na janela, ela pede que o sol a espere.  Mas o sol, teimoso que é, adormece antes que ela retorne da rotina. O escurecer traz os desejos com a força e a rapidez do vento minuano. Ela gosta dele, por que é melhor de amar quando ele está presente. Por que é bom encostar no amor com o nariz e os pés gelados, enredar-se entre as pernas do amor na cama, no sofá, na cadeira... Ela sorri. Pois sabe que no instante seguinte irá receber o abraço espontâneo, longo quase infinito, que exala a saudade do cotidiano. O casaco preto do amor esquenta os dois, mas nada transmite mais calor que a energia trocada naquele abraço apertado e sincero, de quem tanto se quer. Na sala vazia de outros, mas cheia daqueles dois,  ela, quase que tendo que subir na ponta dos pés para chegar próxima ao ouvido do amor, sussura baixinho: “Adoro inverno! E amo você  (em qualquer estação!)"

terça-feira, 18 de maio de 2010

Palavra

"Tenho que escolher a mais bonita
Para poder dizer coisas do coração

Da letra e de quem lê
Toda palavra escrita, rabiscada
No joelho, guardanapo, chão
Ponto, pula linha, travessão
E a palavra vem
Pequena
Querendo se esconder no silêncio

Querendo se fazer de oração
Baixinha como a altura da intenção na insegurança
Vírgula, parênteses, exclamação
Ponto, pula linha, travessão
E a palavra vem
Vem sozinha
Que a minha frase invento pra te convencer
Vem sozinha
Se o texto é curto, aumento pra te convencer
Palavra
Simples como qualquer palavra

Que eu já não precise falar
Simples como qualquer palavra
Que de algum modo eu pude mostrar
Simples como qualquer palavra
Como qualquer palavra."
O Teatro Mágico

sábado, 15 de maio de 2010

Teatro Mágico




Quer dar um presente maravilhoso pra alguém? Dá um dvd do Teatro Mágico.
Quer ouvir alguma música boa no carro? Põe o cd do Teatro Mágico.
Quer ler poesia? Leia uma música do Teatro Mágico.
Quer ir ao circo? Vá a um show do Teatro Mágico.

É impressionante o talento desses caras; Eles conseguiram reunir boa poesia, boa música e bom circo e fazem isso passando uma mensagen importante pra quem os ouve. 
Não sei o que mais me encantou no grupo, talvez tenha sido a qualidade, talvez a consciencia social, a ousadia de inovar, de ser diferente dos outros grupos, de não ser comercial... Não sei, só sei que assistí-los na noite de ontem, foi mais uma surpresa boa que a vida me reservou, foi tão bom que quis vir aqui compartilhar. Espero que todos tenham uma experiência como a que tive ontem.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

Não raras vezes
a poesia me
foge.


Sai correndo,
louca,
bêbada,
trôpega.


Gosto de
vê-la
correr,
beber
até cair.


E depois
do tropeço,
rir.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Poema no Ônibus: PASSATEMPO

"Sentado ao meu lado,
No coletivo lotado,
Um estranho,
Nariz na leitura colado.
Otimização do tempo!
Invejo.
O estômago frágil
Não me permite
Este advento.
No trajeto, divago.
Pensamentos vagabos.
Fim da linha e
Nenhum aproveitamento."
Denair Ines Guzon


"Constrangeu-me pensares
que te olhava embevecido.

embora bela,
não te via!
Apenas lia,
distraído,
o poema na janela."
Jaime Jandir da Porciúncula Peixoto

História da Música A banda.

Ao escrever a Banda, Chico afirma dois dos caminhos pelos quais tem percorrido a sua poesia: a certeza de que a poesia é uma das soluções para a crise do homem e da sociedade e a consciência de sua função social como poeta.

A “banda” simboliza a própria poesia como sendo razão maior do homem.
Por causa da banda/poesia, cessa a ociosidade (“Estava à toa na vida”), levando o homem à atuação, afastando-o da alienação.
Através da poesia, conduzida pela união amorosa (quer seja nas relações amorosas como nas demais) o ser humano vive, participa, é.
Assim, o poeta, nos quatro primeiros versos, acena para a rejeição da ociosidade e a busca da integração.
A banda/poesia é sinônimo de alegria e vida. Propõe o amor, querendo a anulação da dor, do sofrimento, da tristeza:

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O autor reafirma a cada verso a sua consciência poética e social, opondo-se, sempre, à ganância, ao consumismo, à mentira, à alienação:

O homem sério
que contava dinheiro, parou
O faroleiro
Que contava vantagem, parou
A namorada que contava estrelas
Parou para ver, ouvir
E dar passagem

Para Chico, nesta música, poesia é satisfação, prazer, alegria, acima de tudo participação vital:

A moça triste
Que vivia calada, sorriu
E a meninada toda se assanhou

A arte, a música, a banda, tudo isso é força, vigor, capaz de transformar o procedimento do homem. Ela é uma forma de despertar, de fazer acordar. E também é beleza:

O velho fraco
Se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço
Pra sair no terraço
E cantou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda
Tocava pra ela

A arte está no coletivo ou deve ser feita para o povo. Banda, poeta e povo se associam numa perfeita integração. Nesse sentido, é instrumento da verdade, trazendo consigo a luz, a claridade, o que significa conhecimento, entendimento. Assim, a luz da natureza (“lua cheia”) comunga dos mesmos ideais do poeta e da poesia:

A marcha alegre
Se espalhou na avenida, insistiu
A lua cheia
Que vivia escondida, surgiu
E a cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A “banda” simboliza algo muito mais criativo que uma banda. Ela é poesia, participação, amor, vida. A “banda” une poeta e povo, natureza e poesia. Reúne velhos e moços, coisas e objetos, tudo isso num processo de recriação. Imagens como “A minha gente sofrida / despediu-se da dor” e “A rosa triste / que vivia fechada se abriu” e a renovação e atualização de “o que era doce acabou” confirmam a poeticidade de A Banda, sem deixar de lado a crítica social.

Ai, ai

Plantei uma vontade no futuro.
Não me aguentei e dei uma mordida.
Tinha sabor de agora.
O problema foi que fiquei em dúvida:
será que o gosto depois melhora??

sábado, 1 de maio de 2010