Ao escrever a Banda, Chico afirma dois dos caminhos pelos quais tem percorrido a sua poesia: a certeza de que a poesia é uma das soluções para a crise do homem e da sociedade e a consciência de sua função social como poeta.
A “banda” simboliza a própria poesia como sendo razão maior do homem.
Por causa da banda/poesia, cessa a ociosidade (“Estava à toa na vida”), levando o homem à atuação, afastando-o da alienação.
Através da poesia, conduzida pela união amorosa (quer seja nas relações amorosas como nas demais) o ser humano vive, participa, é.
Assim, o poeta, nos quatro primeiros versos, acena para a rejeição da ociosidade e a busca da integração.
A banda/poesia é sinônimo de alegria e vida. Propõe o amor, querendo a anulação da dor, do sofrimento, da tristeza:
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O autor reafirma a cada verso a sua consciência poética e social, opondo-se, sempre, à ganância, ao consumismo, à mentira, à alienação:
O homem sério
que contava dinheiro, parou
O faroleiro
Que contava vantagem, parou
A namorada que contava estrelas
Parou para ver, ouvir
E dar passagem
Para Chico, nesta música, poesia é satisfação, prazer, alegria, acima de tudo participação vital:
A moça triste
Que vivia calada, sorriu
E a meninada toda se assanhou
A arte, a música, a banda, tudo isso é força, vigor, capaz de transformar o procedimento do homem. Ela é uma forma de despertar, de fazer acordar. E também é beleza:
O velho fraco
Se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço
Pra sair no terraço
E cantou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda
Tocava pra ela
A arte está no coletivo ou deve ser feita para o povo. Banda, poeta e povo se associam numa perfeita integração. Nesse sentido, é instrumento da verdade, trazendo consigo a luz, a claridade, o que significa conhecimento, entendimento. Assim, a luz da natureza (“lua cheia”) comunga dos mesmos ideais do poeta e da poesia:
A marcha alegre
Se espalhou na avenida, insistiu
A lua cheia
Que vivia escondida, surgiu
E a cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A “banda” simboliza algo muito mais criativo que uma banda. Ela é poesia, participação, amor, vida. A “banda” une poeta e povo, natureza e poesia. Reúne velhos e moços, coisas e objetos, tudo isso num processo de recriação. Imagens como “A minha gente sofrida / despediu-se da dor” e “A rosa triste / que vivia fechada se abriu” e a renovação e atualização de “o que era doce acabou” confirmam a poeticidade de A Banda, sem deixar de lado a crítica social.