quarta-feira, 21 de abril de 2010

Conceito

"Sabe aquelas pedrinhas pequenas, pontudas, que quando
pisamos descalços machucam, mas logo que levantamos o
pé, percebemos que a pedrinha é a mais bem definida...
Sabe aquelas distâncias que parecem bem curtas, que
estamos ali perto, mas sempre falta um pouco. Falta
uma palavra, ou, às vezes, falta o jeito de dizer a
palavra...
Sabe aquela caída que o pescoço dá quando ouvimos ou
sentimos uma coisa muito boa, fruto de um carinho...
Sabe aquela respiração que fala, que acusa ou a
impaciência ou felicidade...
Sabe! Todas essas ‘coisas’ e várias outras, são um
conjunto de significados que dependem de alguém para
acontecer ou não. Viver sem sentir essas ‘coisas’, não
é viver, portanto cuidar e bem tratar quem faz com que
as sintamos é a opção que faço, com todos os meus
defeitos, exageros e erros, faço porque prezo, tolero
e dependo.
De tudo que passa, independente do que é, ou do que
será, o que realmente fica são os sentidos
(significados), e esses se refletem na sinceridade do
que se sente. E é dessa sinceridade que deriva,
também, não só a beleza, mas, principalmente, a
essência do que se sente. É a essa essência que
atribuo o nome de amor."
Gregório Grisa

Belo dia!

Acordo em flor.
Me despetalo do cobertor,
da cortina,
da camisola macia.
Me ponho o corpo a regar.
É então que eu vou me desabrochando...
Mas a vida não me permite sair tal como sou
E é aí que me cubro de roupa séria, da raiz às pétalas.
Só que sou tão flor que até casaco me floreia em dia frio.
Saio sempre assim, esperando que
pouse em mim a doçura de um dia lento,
como uma borboleta colorida em um
retrato de manhã bonita.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Confissão

As vezes, eu fico acordada esperando o dia.
Mas no fundo, desejo, sempre, que ele se atrase.
Falo bem baixinho para não acordar o sol.
Quando ele vem, faço de conta que acordo.
E ao longo do dia tento falar mais baixinho ainda
pra não assustar o futuro...

domingo, 11 de abril de 2010

Ainda sobre literatura

Clarice Lispector é a minha maior certeza e, ao mesmo tempo, a minha melhor surpresa!
Não tenho receio de dizer que é a melhor escritora do século XX: não conheço quem seja mais sensível e perspicaz. Ninguém se compara a ela. Cada vez que me deparo com novos-velhos textos tenho mais segurança em afirmar que ninguém sintetiza tão bem a complexa subjetividade da existência humana. Ela escreve o que gostaria que tivesse saído de mim, e quando não é assim, ela escreve o que está desorganizado em mim, sem que eu soubesse...

Grandes momentos:
"Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja".

"Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão....tranqüilidade e inconstância, pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer... Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca."

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo."

"
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

"Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém, homem ou mulher, que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar."

"... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo, desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, espararei quanto tempo for preciso."

"Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar. Ao tentar corrigir um erro, eu cometia outro. Sou uma culpada inocente."

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

"Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação."

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

"Deitada em minha rede com o livro sobre meu colo, em extâse purrissímo... Não sou mais aquela menina com seu livro,mas uma mulher com seu amante.."

"Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz."

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Meus clássicos favoritos (falando sobre/de literatura)

Millor Fernandes, nascido em 1923, carioca, caturnista, escritor e humorista. A última característica é a mais marcante. O humor baseado na ironia e na malícia são elementos de sua obra que me atraem muito. Millor me lembra, em alguns textos, Nelson Rodrigues, que, nascido no Recife em 1912, viveu até os 68 anos picante tal qual era quando rapaz, ao morrer deixou muitas ex-mulheres, uma filha recém-nascida e um filho guerrilheiro, o que lhe amargurava profundamente, tendo em vista o apoio á ditadura militar (seu maior e pior defeito). A frase que o (auto)define é: "Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fecha dura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico(desde menino)". Produziu peças teatrais, que de tão explendidas foram ajustadas em (uma das melhores) séries de tv (A vida como ela é e Engraçadinha).
Outro querido meu é o Carlos Drummond de Andrade poeta/contista com uma levada mais ingênua sob o ponto de vista sexual mas muito realista podendo até, por conta desse realismo, ser considerado, em alguns textos, um grande pessimista. Não se compara a
sensualidade dos dois primeiros e ainda que carioca, a maladragem inerente a sua terra dificilmente é identificada em seus textos. Nasceu em 1902 e morreu em 1987. Me delicio dele nos dias em que estou mais romântica.




Frases pinceladas:

  • Capacidade de saber cada vez mais sobre cada vez menos, até saber tudo sobre nada. - Millôr


  • A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade. - Drummond


  • Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu. - Nelson

terça-feira, 6 de abril de 2010

Não Te Esqueças De Mim

Elton Medeiros

Não te esqueças de mim, agora
Quero viver sempre te amando
Vai, mas volta já
Que o sol já vai nascer
Quero preparar
Um lindo sonho
Pra gente viver
Não te esqueças de mim,
Da festa que a noite nos deu
Que acendeu nosso olhar
Na chama do amor que nasceu
Que nasceu do prazer
Que ficou forte demais
Fogo que quando se acende
Não morre jamais
Que a volta
Traga tudo que quiseres:
Teus trapinhos, teus talheres,
Não te esqueça de trazer
Teu coração
Que eu guardo
Meu amor e o meu carinho

Pra gastar bem direitinho
Neste tempo de paixão

Eu sinto a poesia na certeza
Que o amor só tem beleza
Quando foge da razão