quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Desvenda-me, se quiser...

Me peguei pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente se encante tanto por outra vida. E sinta vontade de chamar de amor, de príncipe, de vida. E sinta vontade de escrever poemas. Deixar florir pelo corpo os sorrisos que nascem dos beijos. Nesse mistério que nos faz olhar uma imagem inúmeras vezes, sem cansaço, seja ela feita de papel ou de memória. Que nos faz respirar feliz e suspirar saudoso. Querer caber, com frequência, no mesmo espaço físico em que a tal vida vai estar, de preferência enroscada em suas pernas. Cantarolar pela casa aquela música que a gente nem sabia que lembrava.
Me peguei pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente encontre essa vida na multidão planetária de bilhões de outras. E sem saber que ela existia, perceba, ao encontrá-la, que sentia saudade dela antes mesmo de conhecê-la. Estive pensando nesse mistério que faz com que aquela vida que acaba de encontrar a nossa, nos deixe com a impressão de estar no nosso caminho desde sempre, como se fosse um sol que esteve o tempo todo ali só que a gente não sabia que era ele quem nos esquentava. Nesse mistério que nos faz trocar olhares mais cuidadosos. Que nos faz querer cultivar jardins, lado a lado. Nesse mistério que faz com que a nossa vida queira um bem tão grande à outra vida, que vai ver que querer o bem já baste, e a gente nem desconfia disso.
Me peguei pensando nesse mistério lindo que você é para alguém e alguém é para você ou que ainda serão um para o outro. Nessa oportunidade preciosa dos encontros que nos fazem crescer no amor com o tempero bom da lucidez e do desejo. Nesse clima de passeio noturno, com direito à sorvete em cidade pequena. Nessa paz que convida o coração pra recostar e repousar cansaços. Nesse abraço com braços que começam dentro da gente. Nessa vontade de deixar o mundo todo pra depois só para saborear cada milímetro do momento embrulhado pra presente.


Estive pensando nesse mistério que não consigo desvendar. Nem quero.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011


O toque, de tão intenso, ainda que sútil, tem o efeito de um mergulho.
O problema é que, não raras vezes, tropeço, caio e ralo o coração todinho.
Minha sorte é que a delicadeza também é uma provocação, e por isso,
levanto, 
limpo os joelhos
e me atiro outra vez!!

sábado, 15 de janeiro de 2011

Se você não viu Manhattan (Woody Allen) não me leia!

Não me interesso por fotografia, trilha sonora, maquiagem ou figurino em filmes, o que realmente me chama atenção e me faz enlouquecer no mundo cinematográfico são os diálogos.
Publico, por isso, três diálogos que julgo os melhores e mais complexos (ainda que para enxergar tal complexidade faz-se necessário assistir ao filme) de Woody Allen. Trata-se de três cenas do filme Manhattan, que se passa, como se pode presumir pelo título, em Nova Iorque, com fotografia em preto e branco, e com uma trilha sonora imperdível... Foi com esse filme (um daqueles que dá para dizer que é o da vida, sabe?) que o diretor me fez querer assistir a todos os outros dirigidos por ele.







Manhattan
- Já disse, acho que estou apaixonada por você.
- Não se empolgue, está bem? Isso é uma coisa ótima. E é maravilhoso. Estamos nos divertindo muito, mas você é uma menina e não quero que esqueça disso. Você vai conhecer muitos homens em sua vida. Eu quero que goste de mim, meu senso de humor irônico e minha maravilhosa técnica sexual, mas nunca esqueça de que tem uma vida inteira pela frente.
- Você não sente nada por mim?
- Que pergunta é essa? É claro. Gosto muito de você mas não vai querer se comprometer na sua idade. É charmoso e erótico, sem dúvida... Se a polícia não aparecer... Acho que vamos bater vários recordes, mas você não pode fazer isso, não é bom. Pense em mim como uma espécie de atalho na vida. Então, vista-se. É melhor ir embora.
- Não quer que eu durma aqui?
- Não quero que crie o hábito. Você fica uma noite, depois duas noites e então, já sabe, está morando aqui.
- Não é uma má ideia
- Não é uma ótima ideia. Você não iria gostar. Sou difícil de conviver.

Algumas cenas depois, em uma lanchonete:
- Você está desperdiçando um verdadeiro afeto na pessoa errada.
- Não é errada para mim.
- Ouça, eu não acho que devamos continuar a nos ver.
- Por que não?
- Acho que você está ficando muito ligada em mim. “Ligada em mim”, estou começando a falar como você...
- Não estou ligada em você, estou apaixonada por você.
- Não pode estar apaixonada por mim, já falamos sobre isso. Você é uma criança, não sabe o que é amor. Eu não sei o que é. Ninguém sabe o que acontece.
- Nós rimos juntos. Eu gosto de você. Eu me importo com você, suas preocupações são as minhas, transamos muito bem.
- Mas você tem 17 anos. Quando tiver 21 vai ter vários relacionamentos, mais apaixonados do que este, acredite.
- Você não me ama?
- A verdade é que eu amo outra pessoa.
- Ama?
- Vamos, por favor.  Era para ser temporário, você sabe disso.
- Você conheceu alguém?
- Não me encare com esses olhos grandes. Está parecendo uma criança carente precisando dos pais.
- Você está saindo com alguém?
- Não. Sim. Alguém mais velho... Não tão velha quanto eu, mas na mesma faixa-etária
- Agora eu não me sinto bem
- Isso não está certo, não deveria ter se apaixonado. Deveria se abrir para a vida. Você precisa entender.
- Você fica falando como se fosse vantagem para mim, quando é você quem quer terminar.
- Ei, não seja tão precoce, certo? Não seja tão esperta, tenho 42 anos, meu cabelo está caindo... Estou perdendo a audição no ouvido direito. É isso o que quer?
- Não acredito que encontrou alguém e gosta mais dela do que de mim.
- Por que estou me sentindo culpado? É ridículo. Sempre estimulei você a sair com rapazes da sua idade, colegas de aula. (...) Vamos, não chore...
- Deixe-me em paz


Última cena do filme.
- Desculpe!
- O que está fazendo aqui?
- Bem, eu corri, tentei ligar, mas estava ocupado. Eu sabia que seriam duas horas... Não consegui um táxi, então corri. Para onde está indo?
- Londres
- Vai para Londres agora?
- Como assim?
- Se chegasse dois minutos depois, você estaria indo para Londres?
- Bem, vou direto ao assunto
- Eu não acho que deve ir, acho que cometi um erro. eu preferiria que não fosse
- É verdade, sei que parece ruim, mas... Você está saindo com alguém? Está namorando alguém?
- Não
- Você ainda me ama ou já passou?
- Meu deus! Você aparece não me liga e de repente parece o que aconteceu com a mulher que conheceu?
- Estou dizendo... Não estou mais com ela, eu me enganei. O que quer que eu diga? Eu cometi um erro. 
- Acho que não deve ir a Londres
- Eu tenho que ir. Tudo já está planejado. Meus pais estão lá agora procurando um lugar para eu morar.
- Você ainda me ama?
- Você me ama?
- Sim é o que eu estou fazendo.. Sim, claro. Por isso estou aqui.
- Adivinha eu fiz 18 esses dias, sou legal agora, mas ainda sou nova.
- Não é tão nova, tem 18 anos. Eles já podem alistar você. Em alguns países você seria
- Você está bem?
- Você me machucou
- Não foi de propósito. Foi apenas uma maneira como enxerguei as coisas na época.
- Eu voltarei em 6 meses.
- Seis meses, está brincando? VocÊ vai ficar seis meses fora?
- Já chegamos aqui, o que são mais seis meses se nós nos amamos?
- Não seja tão madura, seis meses é muito tempo. Você vai trabalhar no teatro, estará com atores, diretores.. - Você irá ao teatro e vai conviver com essas pessoas. Almoçarão juntos. Mais rápido do que imagina, vai estar se envolvendo... Não vai querer voltar. Você vai mudar, você será, dentro de seis meses, será uma pessoa diferente. Você não quer que eu tenha esta experiência? Há um tempo atrás você foi tão convincente;
- É claro que eu quero. Mas não quero que mude aquilo que gosto em você.
- Preciso pegar o avião
- Vamos ,você não precisa ir
- Por que não me falou tudo isso semana passada? Seis meses não são muito tempo. Nem todo mundo se corrompe. Você precisa ter um pouco mais de fé nas pessoas.