sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

"Quando a vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como quem dissesse no carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou: disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: ai, morena, não me escreve / que eu não sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro."
Manoel de Barros (Memórias Inventadas - A infância, Ed. Planeta)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"Eu sempre achei que o amor, que o grande amor fosse incondicional. Que quando houvesse um grande encontro entre duas pessoas tudo pudesse acontecer… Porque se aquele fosse o grande amor, ele sempre voltaria triunfal… Mas nem todo amor é incondicional… Acreditar na eternidade do amor é precipitar o seu fim. Porque você acha que esse amor aguenta tudo, então de um jeito ou de outro você acaba fazendo esse amor passar por tudo…. Um grande amor não é possível. E talvez por isso é que seja grande – para que nele caiba o impossível."

André Newmann,
em 'Afinal, o que querem as mulheres?' 
(Michel Malamed)

Adivinha quem é o homem da sua vida?

Ele é hipocondríaco, só pode ser, pois a maioria dos seus personagens também o é, neurótico e políticamente inteligente da maneira mais charmosa que pode existir. Não é atoa que faz tanto sucesso com as personagens dos filmes que dirige. Faz aquele tipo indiferente, que não se prende aos padrões tradicionais, mas é tão romântico a ponto de não querer parecer como todos os homens quando estão apaixonados. O problema é que ele é desajeitado e derruba tudo, e quebra as coisas... Mas tudo bem, você também é assim. Você sempre gostou de caras de óculos, admite. Ele fez você amar Manhattan, Sinatra, filmes em preto e branco, política, sarcarsmo e irona. Ele gosta de falar muito e é bastante sincero, ainda que a verdade proferida por ele doa. Diálogos, longos, existencialistas, rápidos, irônicos, pessimistas é o que ele gosta... E você também. Ele precisa de alguém que cuide dele, ainda que ele diga que é melhor não se apegar, não depender do outro. Ele não tem medo da morte, afinal é a única coisa de que tem certeza, mas não pode ver lagostas, nem aranhas... Ele pode dar o primeiro beijo em você bem no meio da rua, sob a justificativa de que se beijariam de qualquer maneira, então que fosse logo, para não ser depois do jantar, para a comida digerir melhor... Ele, por sorte, gosta de mulheres mais novas, deve ser essa fascinação de ensinar, de ser admirado que o faz optar, quase sempre, pelas mais jovens, mal sabe ele, que depois de ficar mais perto da menina, é ele quem acaba por aprender, principalmente, aprender sobre si mesmo. Você que não é adepta de finais felizes como os outros filmes de Hollywood vai se dar bem com ele. De uma forma ou de outra, você sempre o terá, você pode até tê-lo fragmentado em 48 partes. Aposto que até em mais partes ainda, pois não acho que ele pare por aqui... Vida longa a ele, para que possamos tê-lo cada vez mais...