terça-feira, 23 de novembro de 2010

Poema para o fim do semestre

É curioso como, de uns tempos para cá,
eu - que sou tão descabida de abstrações -
tenho me encontrado carregando montanhas dentro da bolsa,
catapultando avenidas para chegar a tempo,
abrigando o vento dentro do casaco fino e
ouvindo o que sussurram as formigas.
É engraçado como, de uns tempos para cá, tenho feito o impossível,
posso tudo,
e, dificilmente, algo me evapora.
Posso tudo,
menos dizer 'não'.
É por isso que espero,
é por isso que a esperança não escapa de mim.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Dr. eu não me engano, meu coração é Saramaguiano!



Quando Miguel Gonçalves Mendes propôs a José Saramago (que, num primeiro momento, recusou, mas diante da insistência do diretor, aceitou) fazer um documentário para acompanhar a elaboração de um de seus livros, provavelmente, não tinha em mente fazer um filme de amor. 
É possível que a ideia de retratar a intimidade do casal tenha surgido a partir da proximidade que o diretor passou a ter com os dois. Foram três anos acompanhando Saramago e Pilar, porém ,o diretor, que acredito ser um bom observador, deve ter notado o carinho que um tinha com o outro logo de cara, (assim como fica na cara, logo nas primeiras cenas que registravam as ações mais cotidianas, como atender o telefone, ou as situações mais atribuladas, como decidir atividades profissionais, estavam sempre os dois a acarinharem-se as mãos ou, ainda, a chamarem-se de “mi amor”, inclusive em meio a uma discussão que o diretor teve a sorte de registrar – digo sorte pois quando se tem uma câmera apontada para nós, independentemente do tempo que essa câmera está nos mirando, se evita qualquer atitude que julguemos imprópria de ser gravada, o que, para um casal, imagino, seja o registro de uma 'briga'). Diga-se de passagem, "mi amor" é a expressão mais dita pelo portugues, a segunda é "ó pá" (é curioso como Saramago, escritor reconhecido por ter uma escrita difícil, rebuscada, por diversas vezes, se mostra repetindo essa típica expressão popular portuguesa, quase como se fosse um vício, uma gíria que gruda na boca do adolescente e não sai mais).
O filme é poesia, é beleza, é digno de Pilar e Saramago, e é a consagração do ditado: “por trás de todo grande homem, há, sempre, uma grande mulher”. Pilar é forte, feminista, inteligente, e não poderia ser diferente, Saramago não se envolveria, durante tantos anos, com uma mulher que não tivesse essas características.
Os (poucos) 124 minutos de filme mostram o casal-exemplo, que se respeita, que se dedica, que perde a paciência e briga às vezes, mas que é cúmplice, companheiro e sedento por conhecimento, pela crítica e por fazer a diferença. É um casal que, apesar dos trinta anos de diferença, não há como imputar a nenhum dos cônjuges a (preconceituosa) característica de interesse, no sentido pejorativo da palavra, pois é visível os elementos de ambos que atraem um ao outro.
O filme é muito bom, íntimo, simples, tocante, principalmente pelo fato de ter sido lançado após a morte do escritor. Saí do cinema leve. Recomendo, ainda que a distribuição em Porto Alegre tenha sido péssima, sendo exibido em apenas uma sala de cinema e em único horário (17h30 minutos), vale a pena!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Julgando o livro pela capa



Hoje, na 56ª Feira do Livro de Porto Alegre, me deparei com um simpático livro: O evangelho de Barrabás. Comprei, sem que sequer soubesse do que se tratava, pura e simplesmente em razão do que passo a transcrever-lhes agora:

"Quando pegares este livro em tuas mãos, não terás outra saída a não ser seguir os dez mandamentos do leitor. A saber:
1. Olharás a capa com atenção
2. Darás uma lida na orelha
3. Folhearás o livro
4. Lerás alguma página ao acaso
5. Darás um risada
6. Pensarás um pouco e decidirás levá-lo para casa
7. Pegarás a fila do caixa
8. Pagarás o livro  com um cheque sem fundo
9. Lerás o livro com gosto
10. E, por fim, emprestarás este exemplar a um amigo e ele jamais voltará às tuas mãos."

O trecho, marcado geografica e estrategicamente na contracapa do livro, aponta, sutilmente, toda a ironia que expira a trama. Trata-se do relato de Barrabás, aquele que foi, por votação, absolvido ao invés de Jesus Cristo, segundo as histórias biblicas. Tudo que vos digo, advém da leitura breve, porém atenta, da contracapa e da orelha do livro, por isso, contenho as expectativas e conto-lhes mais quando terminar.