quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A literatura me salva.

  
Os últimos dias foram tensos, final de semestre é sempre corrido, ainda mais último final de semestre na graduação da vida. Ainda mais final de semestre com a perda de uma pessoa querida. Final de semestre com o sofrimento dos que amo...

Apesar de já ter decidido que não vou remoer esse fatídico episódio, não teria como começar a falar da Vereda Literária II sem contar o quanto o dia de ontem foi difícil (e o quanto a Vereda foi necessária).
Ontem fui à despedida de uma pessoa querida, com cerimônia lotada de jovens chorosos, vivi uma das tardes mais tristes da minha vida. Como estava de carona, antes de ir pra casa, acabamos dando uma passadinha na Palavraria (Rua Vasco da Gama) e assistimos a fala de Michel Laub, Cintía Moscovich e Juarez Guedes Cruz sobre "A verdade e as mentiras". E foi muito bom. Foi melhor do que ir pra casa e ficar reprisando a tristeza, foi melhor do que ir pro divã do terapeuta, foi melhor do que uma mesa de bar com os amigos. Naquele momento, foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.

No encontro eles falaram sobre o risco que se corre de escrever, e por conseguinte, de limitar, memórias. Quando escrevemos (ainda que com a intenção de narrar fatos verídicos), fundamos algumas verdades que, na realidade, sequer existiram. Passamos a acreditar nessas verdades fundadas e acabamos alterando as sensações que tinhamos com relação àquela situação vivida. 
Explico: quando viajamos, por exemplo, e fazemos um diário de viagem as chances de o lermos dez anos depois, e lembrarmos da tal viagem exatamente como estava ali escrito são enormes. Ou seja, passa-se a lembrar do que se definiu através da escrita, e se essa escrita aumentou alguns fatos, ou até mesmo inventou, as chances de lembrarmos desses fatos aumentados/inventados como verdadeiros são de quase 100%. 

Com a fala acontece o mesmo, através de outro mecanismo, mas com a mesma lógica, acabamos alterando algumas sensações quando as expomos. Na verdade, não há nada de mal nisso, a reflexão sobre essas questões é que me deixou fascinada.

Gostaria de escrever, diante do que passou, da volatilidade da vida, da fraqueza do corpo humano, da constatação de que diante da perda a religião se mostra, sim, o melhor amparo, mas temo que ao escrever acabe definindo alguns sentimentos que ainda não estão maduros para serem colocados no papel.


Ontem disseram: existem histórias de viver, e histórias de escrever. Quando for a hora certa, talvez eu consiga organizar o que estou sentindo, mas ainda é cedo. Por enquanto fica a programação desse evento revelador, que está aqui, na nossa cidade, de graça, para os que reclamam que Porto Alegre não propõe eventos culturais, para os que reclamam que não tem nada de bom na TV, para os que reclamam da vida, para os que reclamam da morte... Para todos!


http://palavraria.wordpress.com/programacao-2011/