quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A nitidez das páginas viradas

A conversa foi a seguinte:

- Isso faz parte do seu passado.
- Não. Isso faz parte de mim.

O meu passado é meu. Só meu. E não há como desconectá-lo de mim. Os gritos do que passou ainda ecoam na minha cabeça e no meu coração. Tudo o que faço, penso e sou hoje é o reflexo desse espelho que pode até estar sujo, quebrado e escondido; mas ainda reflete com as cenas de ontem. E só eu e ele sabemos como foi. A nitidez das páginas viradas ainda me assusta.

Não me peçam para esquecer o passado. Não me peçam para deixar pra lá.

Meu passado é cicatriz. É a marca de que vivi. Sinal de aprendizado, dor, angústia, derrota, vitória e suor. É o livro que eu consulto para saber se o caminho à frente é seguro. Um livro que mostra aquilo que sou, aquilo que fizeram de mim e aquilo que eu fiz dos outros.

Lá atrás estão todos os meus sonhos e pesadelos realizados. A prova de que felicidade e tristeza têm rosto, cheiro, textura e sabor. Tudo isso um pouco idealizado por uma cabeça que tem mania de ver poesia em tudo; mas são verdades.

Me agarro ao que passou pra poder acreditar no que vem pela frente. Não há futuro sem saber o que ficou pra trás.

Então não. Não me venha com essa de virar a página.

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